Conheça cinco artistas com discografias gigantescas

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Conheça cinco artistas com discografias gigantescas

Que tal ouvir mais de 40 álbuns de Prince, centenas de álbuns ao vivo do Grateful Dead ou dezenas de raridades de Bob Dylan?

– Conheça cinco artistas com discografias gigantescas

O mundo da música é democrático o bastante para abrigar artistas que gravam muito, pouco e também muito pouco – os Rolling Stones, por exemplo gravaram nos últimos 40 anos, apenas nove álbuns de estúdio, quase o mesmo número de álbuns originais que eles lançaram na Inglaterra apenas nos anos 60.

Mas existem alguns artistas que realmente gostam do estúdio, ou do palco, e não vêem problema nenhum em lançar discos e mais discos no mercado. Abaixo selecionamos cinco músicos que fazem, ou faziam, parte desse grupo, embora a lista esteja longe de se limitar a eles. Do misterioso Jandek, um cantor norte-americano de folk e blues que lançou mais de 100 discos e sobre quem praticamente nada se sabe, até os populares Neil Young (40 álbuns solo de material de estúdio original) ou Van Morrison (41), há muita gente em todo o mundo que lança discos em grandes quantidades.

Para quem quiser aproveitar esse período de quarentena para conhecer artistas com muitos (e bota muitos) discos disponíveis, esses cinco nomes são ótimos.

Bob Dylan

Bob Dylan letras

Período de atividade: 1962 até os dias de hoje.
Tamanho da obra – 38 álbuns de estúdio, 15 volumes de “Bootleg Series”, duas caixas com dezenas de CDs ao vivo de mesma turnê, entre outros lançamentos.

Um dos maiores nomes – para muitos o maior – da música contemporânea, Dylan deixou como poucos a sua marca no mundo. O cantor e compositor pode ter andado meio quieto recentemente, já que na última década apenas um disco de inéditas e três com versões para standards do cancioneiro norte-americano foram lançados, mas gravou o bastante para que muito material ainda saia no futuro. Vejamos:

Primeiro temos os discos oficiais, 38, desde o começo como músico de folk, passando pela fase elétrica de meados dos anos 60, a mais calma influenciada pelo country, o “retorno” do meio da década de 70, a época gospel (79-81), os problemáticos anos 80 e o renascimento definitivo visto no meio dos anos 90.

Depois temos as “Bootleg Series”, uma série de álbuns que revelam o “Dylan oculto”, com gravações de shows, sobras de estúdio e versões diferentes para músicas já lançadas. Até o momento são 15 volumes (ou 12 já que os de um, dois e três saíram juntos em 1991). A partir do volume quatro, os CDs duplos eram o padrão. Posteriormente, edições mais completas com mais e mais CDs também foram disponibilizadas. O volume 12 é o recordista com a versão de 18 discos, que traz, literalmente, todas a sessões de estúdio realizadas em 1965 e 1966 de “Like A Rolling Stone“, incluindo os erros de gravação e um disco dedicado exclusivamente para a gestão da canção.

Como se não bastasse, recentemente dois caixotes com dezenas de discos também foram lançados de forma oficial (porque se entrarmos na área dos discos piratas dele a coisa fica ainda mais surpreendente): um com todos os shows que ele fez na mítica turnê de 1966 (36 CDs!) e outra com registros feitos na “Rolling Thunder Revue”, de 1975, com 14 CDs.

Depois disso tudo, você ainda pode adicionar na sua lista a audição de “Murder Most Foul“, a primeira música nova de Dylan em oito anos que, com gloriosos 17 minutos, se tornou oficialmente a sua música mais longa.

Por onde começar?

A trilogia do meio dos anos 60 é ainda um dos maiores documentos da história do rock e para sempre continuará sendo. Então “Bringing It All Back Home”, “Highway 61 Revisited” e “Blonde On Blonde”, junto com uma boa compilação, é por onde a jornada deve começar. “Blood On The Tracks” (1975) e “Time Out Of Mind” (1997) são igualmente clássicos e mostram o cantor e compositor em outros momentos de sua vida.

Grateful Dead

Grateful Dead
Grateful Dead O Grateful Dead nos anos 60, com Jerry Garcia à frente

Período de atividade – 1965 – 1995.
Tamanho da obra: 13 álbuns de estúdio e mais de 100 ao vivo.

No Brasil, e no mundo de modo geral, o Grateful Dead nunca conseguiu o mesmo tipo de devoção que tinha nos Estados Unidos. A banda, surgida em 1965 e grande nome da psicodelia, começou a atrair uma horda de doidões de todos os tipos para os seus shows, marcados por longas improvisações que eram potencializadas com o uso de LSD.

A banda, liderada pelo guitarrista Jerry Garcia não gostava muito do estúdio, foram apenas 13 discos entre 1967 e 1990. Já no palco a coisa era diferente. Era ali que o grupo de fato encontrava a sua razão de existir e foi assim que os concertos deles começaram a se transformar em espécies de cultos, com muitos fãs, os chamados “Deadheads”, simplesmente passando a viver em função da banda, seguindo-os para onde quer que fossem.

Ao contrário de brigar contra as gravações não autorizadas de shows, eles viram que esses registros eram uma boa forma de divulgação e passaram a incentivar a prática. Os fãs que quisessem um material de melhor qualidade dos concertos tinham até saídas direto da mesa de som para plugar os seus gravadores. Em resumo, o GD é uma banda que tem praticamente todos os shows de sua história gravados com qualidade no mínimo aceitável e centenas deles já ganharam lançamento oficial.

O Dead tem mais de 200 discos ao vivo catalogados, desde clássicos como “Live/Dead”, de 1969, considerado um dos discos mais importantes do rock, até os de séries como “Dick’s Picks” (36 volumes) e “Dave’s Picks” (34).

A devoção entre os fãs é tão grande que muitos falam com absurda propriedade que determinado show, acontecido em certo ano em determinada cidade, foi o melhor que eles fizeram em toda a carreira, ou que a versão de tal música ouvida em 1984 foi a melhor de todas.

O Grateful Dead acabou com a morte de Garcia em 1995, mas seus integrantes mantém o legado vivo em outras formações (como o “Dead & Co.”, que tem John Mayer em sua formação). Em 2015, eles voltaram a usar o nome da banda para uma série de cinco concertos em estádios dos EUA – cada um com um repertório totalmente diferente do outro.

Por onde começar: entre os discos de estúdio, a dobradinha “Working Man’s Dead” e “American Beauty”, de 1970, com músicas mais convencionais de pegada country rock, é uma ótima porta de entrada para o universo deles. “Live/Dead”, de 1969, é o melhor começo para quem for se embrenhar nas gravações ao vivo. Para quem quiser ir além essa lista da Rolling Stone com os 20 melhores concertos que eles fizeram, é de grande utilidade.

Frank Zappa

Frank Zappa letras

Período de atividade: 1966 a 1993.

Tamanho da obra: 62 álbuns em vida, vários deles duplos ou até triplos, e mais 53 póstumos, contabilizando 115 volumes do “Projeto/Objeto”.

Zappa foi o primeiro nome do rock que, desde o começo, sempre gravou de forma exaustiva. Ele praticamente inventou o álbum duplo. “Freak Out”, seu disco de estreia é, ao lado de “Blonde On Blonde”, de Bob Dylan, o primeiro a sair nesse formato (os discos chegaram às lojas com apenas uma semana de diferença em junho de 1966).

Enquanto a maioria dos artistas lançavam, se muito, um disco por ano, ele lançava dois, três ou até quatro e em diversos estilos: há trabalhos de pura loucura musical, outros dedicados ao jazz rock, trabalhos ao vivo, óperas rock, uns apenas com solos de guitarra, outros em que ele mostra seu lado de compositor erudito de vanguarda e, sim, até discos de rock um pouco mais convencional. Foi assim que mesmo tendo morrido precocemente, com apenas 52 anos, vitimado por um câncer na próstata em 1993, ele partiu deixando mais de 60 discos oficiais.

Dito isso, fica claro que entrar na obra de Zappa não é uma das tarefas mais fáceis, mas muitos que embarcam nessa viagem acabam fisgados por toda a vida. O músico entendia também que toda sua obra estava interligada. E era normal que um tema ouvido em determinado LP ressurgisse anos depois, reconfigurado, em um disco posterior. Assim, cada trabalho lançado por ele, seja em vida ou postumamente, é considerado mais um capítulo do “Project/Object” Ou “Projeto/Objeto”.

Por onde começar:

“Freak Out” (1966) e “We’re Only In It For The Money” (1968) são boas opções para quem curte o lado mais insano dos anos 60. “Hot Rats” é uma pérola do jazz rock, e “Apostrophe” e “Over-Nite Sensation” são ótimos discos dentro de um formato, mais ou menos, tradicional. Daí pra frente cabe a cada um fazer suas explorações individuais dentro desse vasto catálogo para descobrir outros favoritos.

Guided By Voices

Guided By Voices

Período de atividade: 1987 (ano do primeiro álbum) até a atualidade.
Tamanho da obra: 30 álbuns, seis boxsets e inúmeros singles e EPs. Mais pelo menos 20 álbuns de Robert Pollard solo e outros tantos de seus demais projetos paralelos.

Muito queridos nas cenas indie e alternativa, o Guided By Voices é cria de Robert Pollard, um americano que está com 62 anos e que, já com certa idade, decidiu abandonar a carreira de professor para abraçar a música.

Pollard é dos artistas mais prolíficos do planeta, tendo composto mais de 2 mil canções espalhadas em infindáveis álbuns, singles e EPs. Suas músicas tendem a ser melódicas e de fácil assimilação, com muita influência de rock dos anos 60 e do lado mais melódico da música alternativa. Ao mesmo tempo, Pollard é um grande advogado da baixa fidelidade, gravando suas vinhetas quase sempre em equipamentos não profissionais.

Os fãs gostam tanto desse approach que quando ele finalmente lançou discos gravados de forma profissional, com produtores e estúdios de primeira linha, não foram poucos os fãs e críticos que torceram o nariz, achando que algo precioso havia se perdido.

Pollard já lançou 30 álbuns com o GBV (“Surrender Your Poppy Field” saiu em fevereiro e está sendo recebido como um de seus melhores) e mais outros tantos em carreira solo ou com outras bandas e projetos dos mais variados, e não dá sinal de que um dia irá sofrer com “bloqueio criativo”.

Por onde começar: “Bee Thousand”, com seu clima de demo tape, é considerado um dos melhores discos da banda e um dos mais importantes do indie rock dos anos 90. Álbuns como “Alien Lanes” e “Mag Earwhig!” (que saíram em CD no Brasil no início dos anos 2000) também são recomendados. Para quem quer ouvi-los em “alta fidelidade”, “Isolation Drills” é uma boa pedida.

Prince

Prince

Período de atividade: de 1978 (considerando o primeiro álbum oficial) a 2016.
Tamanho da obra: 39 discos de estúdio, mais outros lançados apenas online, dois discos póstumos, dois álbuns em versão expandida, mais os trabalhos em que ele atuou como produtor e compositor.

O músico, morto em 2016 com apenas 57 anos, era conhecido por sua total e absoluta devoção ao estúdio e aos palcos. Quando já se vivia a norma de espaçar os lançamentos para não saturar o público, e também porque a partir dos anos 80 um mesmo álbum conseguia ser trabalhado por anos, Prince seguia lançando discos anualmente, muitos deles duplos. Na décadas de 90, ele chegou a processar a Warner porque a gravadora não queria colocar no mercado a quantidade de discos que ele desejava. Assim, a chegada da internet lhe foi ótima, pois permitiu colocar no mercado vários álbuns e boxes, por conta própria. O curioso é que, anos depois, ele se tornou um ferrenho opositor da rede, não permitindo sequer que seus clipes fossem vistos no YouTube.

Quando morreu, o astro tinha nada menos que 39 álbuns oficiais, fora os lançamentos exclusivos na internet e os trabalhos ao vivo e demais projetos. Esse volume só tende a aumentar, agora que o seu famoso cofre (onde ele arquivava tudo o que gravava) começou a vir a público. Além de dois discos póstumos, os detentores de seu espólio também lançaram edições expandidas de “Purple Rain” (1984) e de “1999” (1982), com dezenas de faixas extras – muitas delas tão inacreditavelmente boas e com potencial de sucesso, que chega a assustar que ele tenha simplesmente as arquivado.

Por onde começar: a chamada fase imperial, que compreende os sete discos lançados entre 1980 e 1987 estão entre as melhores sequências já vistas em toda a música pop, com “Purple Rain” (1984) e “Sign O’ The Times” (1987) brilhando soberanamente. Depois o caminho é mais complicado, com muitos discos irregulares, ou demasiadamente longos, escondendo um bom número de pérolas. A vantagem é que todo esse material está disponível nos serviços de streaming (algo comum a todos os artistas citados nesse texto), o que ajuda a facilitar a vida de quem quiser se aventurar pela mistura de soul, funk, jazz, pop, rock e mais, que ele fazia de forma tão única.

Conheça cinco artistas com discografias gigantescas.


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